“SUA TRAJETÓRIA”

“Boa música é aquela que fala com simplicidade e que toca a gente com profundidade” foi a resposta dada por Cícero Gonçalves, quando em uma entrevista perguntaram como ele analisava seu trabalho.

O homem não é diferente. Com sua fala mansa, bem mineira, em uma prosa tranqüila vai dedilhando, sem pressa, sua trajetória do Vale do Jequitinhonha até a megalópole paulista.

Nascido em Teófilo Otoni, cresceu ouvindo pelo rádio AM Zé Betio, Roberto Carlos, Tião Carreiro, Pardinho e outras estrelas da época, na roça onde morava.

O primeiro contato com o instrumento, foi quando um irmão veio de São Paulo e ele ficou um mês todo mexendo no violão deixado por ele. A musicalidade foi nascendo na labuta do dia-a-dia, observando o tempo, a maturação das estações, na essência da natureza que só pode ser compreendida e vivenciada sem as luzes de neón, onde a noite pode ser medida pela escuridão ou o clarão das mudanças da lua.

Entre um dedilhar e outro, já na mocidade, foi estudar Técnica em Agropecuária.
Na década de 80, explode os Festivais no Vale do Jequitinhonha.
Nesta efervescência musical, Cícero Gonçalves começa a tomar gosto e compor suas primeiras músicas.

Como ele mesmo diz “Acredito que o sonho de todo artista é ser reconhecido pelo que faz, no meu caso poder gravar as minhas músicas. Essa é a grande mola que faz com que o artista supere os obstáculos que as vezes se apresentam intransponíveis.”

Neste período mora por alguns meses em Belo Horizonte, retornando para o Vale do Jequitinhonha para trabalhar em uma escola agrícola. Começa a participar dos Festivais da região.

Em 1988 alça um novo vôo e pousa em São Paulo buscando mais aparato e conhecimento para poder expressar sua musicalidade.
Estuda música por cinco anos e como ele mesmo diz “às vezes temos que escolher entre pagar a pensão ou pagar a escola. E nesta, a sobrevivência sempre impera.”

“COM A VIOLA EMBAIXO DO BRAÇO”

A viola caipira vai entrar em sua vida em 1992, quando retorna em férias ao Vale do Jequitinhonha e acaba participando da Primeira Cantoria de Francisco Badaró, onde encontra grandes violeiros como Pereira da Viola, Miltinho Edilberto e outros.

Foi através deles que Cícero tem seu grande insite e descobre o gosto pela viola caipira, incorporando-a definitivamente em sua vida, como seu instrumento musical.

“Naquele momento, ouvindo violeiros de grande qualidade, percebi que a minha música exigia aquele tipo de instrumento.
Ouvindo a viola percebi que ela daria a decoração ideal, a vestimenta perfeita.
Senti que havia aberto uma janela na minha mente e eu finalmente tinha achado o meu instrumento.”

Cícero retorna para São Paulo, manda fazer sua viola e começa seu novo aprendizado, desta vez como autodidata.
Mais tarde vai Ter aulas com Rui Tornezi, como ele mesmo diz “dar uma buriladinha”.

“Solteiro, sem compromisso, não tinha nem passarinho para “dar-de-comer” pensei bem e resolvi colocar o pé na estrada e com muita coragem, mesmo sem conhecer São Paulo, viver de música e assumir o meu trabalho. Comecei a conhecer pessoas a descobrir espaços e a partir daí as coisas foram tomando seu rumo.” Nos conta ele.

Rodou o Brasil, participou de festivais, ganhou, empatou, perdeu. E, nos giros da vida, em 1998, como ele mesmo conta: - “imagine misturar comida japonesa com viola caipira?” – foi cantando em um restaurante japonês nos Jardins em São Paulo, onde ele encontra o compositor Victor Martins da Gravadora Velas que se interessa pelo seu trabalho. Em 1999 marca sua estréia na Gravadora Velas gravando o CD “Oferenda” produzido por Geraldo Vianna.